15/09/2007

To: Nuno
From: Célia


"Ser" Incerto. . .

Não sei muito bem como principiar este texto, a minha cabeça encontra-se túrbida devido à turbulência causada pelo teu feitio admiravelmente fora do normal. Por várias vezes, estreitamente cheguei a pensar em abster-me de ti e dos teus actos vagamente irracionais e intolerantes, por várias vezes deixei-me levar pela minha escassa paciência e proferi coisas que não deveria ter proferido, por várias vezes feri a tua alma sem conter a intencionalidade disso. Mas tu também já magoaste o meu colossal afecto por ti, nomeadamente no que toca à tua diminuta capacidade de confiar em mim, ou na forma como indirectamente aparentas insinuações desagradáveis e repugnantes acerca da minha pessoa… Eu sei que te abespinho repetidamente com a minha personalidade, sei que não te apraz o facto de eu ser como sou com os meus amigos, de dizer que gosto deles… Mas que posso eu fazer? Sempre fui assim.
Eu também não gosto de saber que fumas, que andas na mesma escola que a tua ex. ou que sou o número 7… Contudo, respeito e não posso comutar as coisas, és como és e se gosto de ti, tenho que gostar de ti de todas as maneiras e em todos os momentos.
Categoricamente posso-te caucionar que és deveras importante e especial para mim, tornaste-te numa criatura imprescindível com todos os teus defeitos e com todas as tuas virtudes. Isto deve-se ao episódio de, assim tão de repente, teres aberto as portas do meu mundo de uma feição tão estritamente caracterizado por ti… Adoro cada traço do teu rosto, cada gesto peculiar, cada palavra pronunciada ou cada vocábulo escrito docilmente, cada sorriso bocejado, cada olhar inexplicavelmente incompreensível, cada ausência, cada saudade… Simplesmente adoro cada instante… Mas tudo em ti em um paradoxo porque, o que é hoje, amanhã deixa de ser…




ILUSÃO


Cada palavra e cada expressão
Em cada destino deste sentimento
Vivo em cada sensação:
A frieza do teu sereno olhar
A indiferença do teu tímido gesto
A dura essência da tua forma de manifesto
O teu mais íntimo modo de gostar…

Cada momento vivido
Cada lágrima caída
Não fazem parte de uma realidade
Por mim há muito desconhecida
Onde o misturar de imperfeições
Uno com a plenitude da razão
Cria em mim deplorações
De inigualável perfeição…

O tempo passa que nem o vento
O consegue ver passar
É exactamente nesse momento
Que eu sinto o tormento
De um dia acordar
Para a realidade e ter que ficticiar
A continuidade do teu olhar,
Do teu tocar, do teu exprimir
Da tua rara, talvez única
Forma, maneira, estilo de gostar…

Vivo assim indiscutivelmente perdida
Nos meus mais profundos desejos
Onde a realidade não faz parte da minha vida…

Mas para quê me importar
Com esta carência de verdade
Se assim posso de ti gostar
E por esporádicos milésimos de segundo
Alcançar um pouco de cada felicidade?