02/03/2008

" Quatro Horas "

O que se passa contigo.


Não é nada.


Como não é nada. Tens os olhos tristes.


Não. Eles sempre foram assim.


Se sempre foram assim, tu sempre foste triste.


Não. Eu estou bem. [Esboça um sorriso forçado]


Até o teu sorriso está infeliz.


Que horas são.


Ainda faltam 6horas para ires embora.


Podes-me arranjar uma garrafa de àgua enquanto espero.


Claro, está aqui.


Obrigado.


Mas diz-me la porquê. Porquê é que carregas em toda a tua expressão facial uma tristeza profunda.


Não carrego nada.


Carregas sim. Até as tuas palavras soam a tortura.


Tu é que não estás bem.


Eu estou. Tu não. e Por mais que digas que sim, toda a gente sabe que não.


Toda a gente, quem. [com um olhar desconfiado e vergonhoso]


Não te preocupes, que ele não sabe.


Ele quem. [disfarça colocando uma naturalidade rasca]


Tu sabes de quem falo.


Não não sei. E também não me interessa.


Não te interessa porquê.


Porque não posso interessar-me.


E porque não podes.


Porque ele também pouco se importa comigo.


Tens a certeza disso que dizes.


Tenho. Mas não quero falar mais sobre ele.


Porquê.


Porque lembrar-me dele, magoa-me profundamente.


E porque é que te magoa.


Porque, apesar de dizer que gosta de mim, eu sei que eu gosto mais dele.


Mas como sabes.


Simplesmente sei.


E estás a pensar fazer alguma coisa para mudar isto.


Não sei. Mais ou menos...


Conta-me.


Eu só sei que não quero me magoar.


Mas tu já estás magoada.


Não quero magoar-me mais.


Estás a dizer-me que vai tudo ficar como está.


Não.


Então.


Vou afastar-me. Tentar diminuir o que sinto por ele ao nível do que ele sente por mim.


E achas que consegues.


Não.


Então não é uma boa soluçáo.


Pois não. [Baixou o olhar de encontro ao chão]


Levanta os olhos do chão.


Não quero.


Porquê.


Porque assim penso que ninguem me está a ver.


Não fujas dos problemas.


Eu sei.


Então levanta os olhos do chão.


Não, deixa-me ficar um pedacinho assim.


[1 hora depois]


Melhor.


Nem por isso.


Eu disse.


Eu sei.


O que sentes neste momento.


Vontade de desistir de tudo.


Tudo.


Tudo.


Tudo o quê.


De continuar a gostar dele. Afastar-me mesmo, por completo.


E és capaz.


Não sei.


Já alguma vez tentaste.


Já.


E como correu.


Não correu.


Porquê.


Porque não consegui.


Senteste viciada nele.


Muito. mas este vicio esta a fazer-me mal.


Queres tentar outro afastamento.


Já tentei e não consegui.


Não sei o que te dizer.


Não digas nada, faz só com que eu acorde.


Queres acordar.


Quero.


Porquê.


Porque esta conversa faz me lembrar ainda mais dele.


E magoa-te.


Sim.


Muito.


Sim.


Então está bem.


Obrigada.