18/03/2008

Perdida. . .


Mais uma vez ela volta a cometer o mesmo erro de sempre, o de ficar confusamente perdida entre duas coisas infinitamente distintas mas ao mesmo tempo tão iguais. Parada em frente ao monitor do seu PC, põe-se a escrever sobre o que se passa com ela, mas torna-se cada vez mais difícil descrever o que realmente sente. À medida que os seus dedos delicadamente se dispõe a percorrer o seu teclado velho e rasco, o seu coração palpita de uma forma estranhamente fora do normal e ela questiona-se: "Mas porquê?"Indignada consigo própria, os seus olhos castanhos, sombrios, tristes e cansados de tanto sofrer, recaem sobre o chão e ficam ali fixados. Enquanto isso, o seu pensamento muito devagar recua no tempo e põe-se a lembrar de vários momentos peculiares e marcantes da sua vida.Recordou a sua primeira casa em Portugal, uma pensão a cair aos bocados onde a vizinhança era toda refugiada, tal como ela e a sua família. Lembrou-se dos Natais pobres mas incumensuravelmente felizes passados naquela casa de paredes pintadas de branco muito sujo, rodeada de pessoas que a amavam e que faziam de tudo para que ela sentisse bem. Ainda em pequena, ela não dava valor àqueles momentos tão profundos e sentimentais passados com a família, mas agora daria tudo para voltar a vivê-los e poder aproveitar cada segundo da melhor maneira possível. Esmioçou um sorriso quando a "barbie" que recebeu nesse mesmo Natal lhe apareceu no pensamento. As "barbies" eram muito caras, mas os pais com algum esforço lá lhe conseguiram oferecer uma. Foi a primeira e a única, mas com um valor sentimental estrondosamente forte. Depois veio-lhe à memória a pizzas que a mãe fazia, aquelas pizzas tão boas que lhe eram tão deliciosamente saborosas. Espera, espera... E aqueles bolos quentes saídos do forno quando alguém lá de casa fazia anos! Hum... Vejo que ela ainda consegue sentir o cheiro a estranhar-se nas suas narinas porque a sua expressão facial é de uma extrema satisfação. Voltou aos seus 5 anos e reviveu o seu primeiro dia de escola-infância. A imagem montou-se na sua cabeça como um punzzle muito frangmentado mas aos poucos viu-a com clareza. A mãe vestia-lhe a bata, uma bata com um padrão axedrezado em tons de vermelho e branco, depois arregaçou-lhe as mangas e disse: "Porta-te bem." Ela trazia vestido uma saia verde e umas collants brancas, no cabelo preto e comprido, uma fita fora posta para que lhe puxa-se a franja para tráz. Deu a mão à mãe e saiu de casa. Já fora, viu a estrada que sempre vira da varanda do quarto dos pais e, deixou-se levar. Lembrou-se de ter subido uma rampa de areia e de ver uma senhora à porta da escola-infância, vestida com a mesma bata que ela, à espera da chegada dos seus colegas... O seu olhar, num pequeno instante se deviou para a mesa de estudo que se encontrava no fundo da sala e um suspiro ecoou pela sala vazia e fria. Esboçou outro sorriso e pensou que já fora feliz, mesmo não tendo consciencia de ter saboreado essa sensação. Levantou e deitou-se no pequeno sofá azul e castanho oferecido pelo tio Ernesto no dia 12 de Janeiro do ano passado. Fexou os olhos e voltou a entrar na nostalgia que a preseguia desde então. Desta vez, a sua mente levou-a para a sua adolescência onde tudo à sua volta a fazia rir sem um único motivo coerente e válido para aquela expressão ter estado tantas vezes preso ao seu rosto tão frágil e inocente. Sim, ela sorria muito e todas as vezes sorria por nada. Sorria porque toda a gente sorria, sorria porque era o que as crianças faziam, sorria porque não podia chorar e mostrar a sua fraqueza inata e desmedida que lhe era característico, sorria porque sempre lhe disseram que a melhor arma para a infelicidade era a felicidade disfarçada... Depois, pôs-se a lembrar da sua infindável paixão por aquele ser dotado de uma incoêrencia desnaturada e fora do normal. Por quem sofreu e derramou quase um oceano de lágrimas dolorosas e pronfundamente sentidas. Naquela altura, tudo lhe era indefenido, era uma miuda exageradamente sonhadora e isso custou-lhe caro. Digo isto porque sei o que ela sofreu por tanto sonho desfeito e estragado. Mas por 6 longos anos, continuou a sonhar e a desejar aquele rapaz com todo o seu coração e com toda a sua alma. Por mais que ele lhe fizesse mal, ela simplesmente era incapaz de deixar de ama-lo. Na sua memória destacou-se a frase que sempre a acompanhara nesta altura da sua vida: "Esta sensação é como o vento, não se vê nem se explica, apenas sente-se.". Abriu os olhos e fixou o olhar no tecto de uma forma inexplicavelmente perdida, agarrou no seu peito angustiantemente e murmurou baixinho: "O que se passa comigo?" e num instante o seu rosto ficou lavado em lágrimas. Ela não queria voltar a passar por aquilo tudo de novo, voltar a ter que disfarçar a felicidade, voltar a ter que rir quando lhe apetecesse chorar... Ela sabe que nunca deixará de sonhar, porque é algo que ama fazer e que a põe num mundo que a faz feliz, nem que seja por breves momentos. Mas se esses sonhos depois acabam por morrer e a fazem dessesperar, ela queria matar a sua vontade insaciável de sonhar... Depois, agarrou-se à almofada que se encontrava naquele sofá e fechou-se por completo. A partir desse momento, não consegui decifrar o que lhe ia na alma e nem no pensamento. E ficou ali assim, deitada no sofá a chorar.