09/08/2008

"Um ano depois..."

Ela pensou que era desta, tomando como certo um futuro ainda incerto e carregado de dúbias certezas e fracas convicções. Foi ali onde ela criou um mundo que considerava seguro, onde se pudesse refugiar de cada vez que se sentisse perdida, onde se pudesse aconchegar sempre que fosse preciso, onde cada lágrima e cada lamentação momentânea eram surpreendidas por uma brisa apaziguadora, onde um olhar magoado e triste se transformava num outro mais forte e susceptível a novas alegrias e onde o desespero, como por magia, tornava-se numa esperança nunca antes tangível...

Deixou-se ficar ali durante um ano inteiro. Acreditou na hipótese de ser feliz com ele porque, para além de sentir que o amava cada vez mais, devido ao facto dele se mostrar uma pessoa impressionantemente perfeita, também sentia que era bom assentar com ele porque ia sentir orgulho em apresenta-lo, pela primeira vez em toda a sua vida, a todas as pessoas que conhecia, como aos amigos e, principalmente aos pais e a família nuclear. Sim, orgulho é a palavra mais correcta para designar o que ela sentia em relação a ele, o orgulho e o amor eram a base fundamental desta “pseudo” relação que criou.

Aposto que, de todas as vezes que ela o recorda, recorda-o com um sorriso enorme e com a esperança de um dia, voltar a poder viver outro amor assim. Não o mesmo, porque seria sadismo, mas sim outro com características parecidas mas homogéneas. Foi um amor gratificante e, acima de tudo, foi algo entusiasticamente bom. Vê-se nela a satisfação de ter partilhado este ano com ele, nota-se em cada expressão facial e também na voz trémula e doce, de cada vez que fala dele. Enfim, nada foi assumido entre os dois, mas bem lá no fundo ela já o considerava um namorado porque, de certa forma, a sua vida, já era toda delineada a pensar nele, pois antes de tomar uma decisão punha-se sempre a pensar se seria bom, não só para ela mas para os dois. Agora, depois da ruptura, vejo-a muitas vezes a cometer o erro de ainda pensar assim, contudo depois a consciência recorda-lhe o facto de que as decisões já não dependem de duas pessoas, mas sim só de uma e que essa pessoa é ela e mais ninguém. Ela, à primeira vista, posso dizer que, reage de uma forma saudável, porque tudo nela transborda uma harmonia inimaginável, mas quem sabe o que lhe vai dentro da alma...

Um dia destes conto-vos o fim deste sentimento. Assim, quando ela me disser que já morreu...

P.S.:

Cliquem no título do texto e vejam a música que acompanhou o desenvolvimento deste texto.